Luanda - Ana Maria Daio é uma gentil senhora de trato fino e fiel depositária de saberes antigos do radiojornalismo. Integra o rol de mestres que tive quando, ainda antes dos dezoito anos, decidi iniciar o meu tirocínio neste ofício de dizer as coisas mesmo quando dói: O Jornalismo. É uma senhora do saber e da palavra. Daquelas que escutam antes de falar. Tomem nota: A minha reverência e consideração por ela são como a água azul do mar. Nunca acabam. Manter-se-ão perenes até ao Dia do Juízo Final. Só vão acabar quando os homens conseguirem beijar a Lua e engravidar o horizonte.
Fonte: Club-k.net
Sidney Poitier conquistou o coração de uma turma de estudantes indisciplinados. Mais tarde, esses mesmos alunos prestaram-lhe tributo com ternura e respeito. E assim nasceu o filme “Ao Mestre, com Amor”. Ana Maria Daio chamou a minha atenção ao reagir recentemente ao meu artigo intitulado “O Último Editor Apaga a Luz” com o apontamento que se segue, ao qual daria o título “Ao Pupilo com Ternura”. A vossa atenção:
“As novas nuances do jornalismo em Angola: isenção ou omissão? Assim como muitos jornalistas experientes, não estudei Comunicação Social, mas sim Linguística Portuguesa. No entanto, ao longo de mais de 30 anos de prática jornalística, aprendi que ser jornalista é ser isento e imparcial. Em uma democracia, o jornalismo deve dar tratamento equitativo às diferentes vozes e partidos, garantindo pluralidade e acesso à informação. Tenho acompanhado os textos do Reginaldo (Silva) e do Jorge (Eurico) e concordo com muitas das suas opiniões a respeito. Lamento profundamente que estejamos a resvalar para um precipício, e espero que ainda haja tempo para evitar a queda. Senhores, jornalismo é actualidade, interesse público, livre de censura e de autocensura. Jornalismo é estoicismo, é oportunidade, é "chafurdar" no bom sentido. Não há nada mais prejudicial do que cair no descrédito. Lamento que tenhamos chegado a este ponto, ao NADA. Atrevo-me a perguntar: QUEM OUVE RÁDIO? QUE RÁDIO É MAIS OUVIDA? Neste recente encontro entre os dois opositores, toda a máquina de inquirição – assertiva, opinativa – deveria ter funcionado, mas remetemo-nos mais uma vez ao descaso, à inércia, ao NADA. QUE PENA! Jorge (Eurico), não é fugir, mas estou bem com os meus netos. A luta cabe-vos a vós os mais novos. Um abraço.”
MINHA RESPOSTA:
À mestre Ana Maria Daio, com (muito) carinho:
Li a tua reflexão como quem ouve um sino antigo a despertar consciências. É, por agora, pelas tuas palavras, por quem o sino da minha atenção se dobra. Concordo em Número, Grau e Gênero: Não há jornalismo sem estoicismo, nem isenção que sobreviva à omissão. A tua voz é um farol. Que ela não se apague. Mesmo que a tempestade persista. Que se mantenha perene. Quanto a mim, já não sou pioneiro. Mas a caneta continua a ser a minha arma de combate. Foi isso que me ensinaram. Fazer o que? Continuar a usá-la. Porque ainda creio que há luz na Redacção. Faltam apenas alguns megawatts de coragem e lucidez. Rezemos o terço no fim da tarde. Façamos uma prece pela Liberdade em cada amanhecer.
Com respeito e admiração,
Ad æternum.
Jorge Eurico
(Jornalista)